Texto Base: Isaías 58.
2º dia. Versículos 03 e 04:
“...dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que
afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta? Eis que, no dia em que
jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o
vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com
punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no
alto.” — Almeida Revista e Atualizada
O que estudamos ontem encontra finalmente sua razão de ser: existem pessoas que ousam chegar-se junto a Deus,
exigindo de sua parte uma resposta, mas não tem compromisso nenhum com os preceitos mais caros a nosso Senhor.
O versículo três começa com uma realidade terrível: há quem utilize o jejum ou outras formas de devoção religiosa como
moeda de troca com Deus. E essa é a primeira coisa que o texto de Isaías nos ensina sobre o que não é jejum. Jejuar
não é uma forma de barganha espiritual. Deus não vai nos ouvir ou deixar de nos ouvir se jejuamos ou não. O jejum
não abre os céus para que tenhamos uma atenção especial do Senhor. É justamente essa motivação errada que o autor
dessa passagem começa atacando.
Jesus narra, Lucas 18.9-15, uma parábola sobre dois homens que subiram pra orar no templo: um fariseu e outro
publicano. O fariseu se gabava de todos os seus feitos, inclusive o jejum, que realizava duas vezes por semana. Era uma
oração orgulhosa, e o pior, era realizada no íntimo, oculto de todos, com exceção de Deus. Era grato por dar o dízimo de
tudo quanto ganhava. Por outro lado, o publicano nem ao menos chegou perto do templo tamanha vergonha, “nem
ousava olhar para o céu”. Apenas dizia: “Deus, tem misericórdia de mim que sou pecador.” Os publicanos era odiados por
todo o povo (por exemplo, em Mateus 9.10,11). Eles eram cobradores de impostos. Os judeus consideravam o dinheiro
vindo de um cobrador como impuro, tanto que nem o dízimo podiam dar, ao contrário do fariseu que se orgulhava disso.
Jesus, ao fim, disse que o publicano, e não o fariseu, fora justificado pela sua humildade, pois “quem se orgulha será
exaltado”.
Na época de Isaías muitos estavam jejuando como se fosse uma disputa (a palavra hebraica para contenda é riyb,
Strong, nº 07379, e quer dizer contenda, controvérsia, disputa) de quem agüentava mais tempo sem comer, ou ainda
quem obtia mais bençãos do Senhor. Quando jejuavam, não faziam mais nada, exigiam que outros fizessem seus
trabalhos. Muito interessante que a parábola narrada pelo Senhor Jesus se assemelha ao contexto de Isaías. Pessoas
querendo parecer mais justas e santas, melhores que as demais. No fim do versículo 4, Deus fala que jejuando dessa
forma, “não se fará ouvir a vossa voz do alto”.
Mas para que servia o Jejum em Israel? Em toda a Lei, ou Torah, entregue por Deus a Moisés (e que compreende os
primeiros cinco livros de nossas Bíblias), não há uma única referência as palavras hebraicas para jejum, a saber os
radicais: tsum, o verbo e tsom, substantivo. Suas traduções são praticamente literais, não querem dizer outra coisa a
não ser abster-se de alimento. Mas encontramos em Levítico 16.29,31 uma indicação do que seria um jejum nacional:
“E isto vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas
almas, e nenhum trabalho fareis nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós.
Porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de
todos os vossos pecados perante o SENHOR. É um sábado de descanso para vós, e afligireis
as vossas almas; isto é estatuto perpétuo” – Almeida Corrigida e Fiel.
Todo o capítulo dezesseis do livro de Levítico é extremamente interessante do ponto de vista da História da Salvação. Ele
estabelece que, em Israel, anualmente o Sumo Sacerdote devia entrar no Santuário do Senhor e oferecer um sacrifício
pelos pecados de todo o povo. Assim eles estariam puros e sem culpa diante de Deus. É como se fosse uma prévia do
que Jesus faria em nossas vidas. O livro de Hebreus nos diz que Jesus é um “Sumo Sacerdote Eterno, Único e
Perfeito” (Hebreus 7.20-28). Afirma também que, de uma vez por todas, podemos entrar no Santuário, pelo sangue de
Jesus (10.19-22). Mas o que tem a ver o texto de Levítico e os de Hebreus com o jejum? É que os judeus passaram a
interpretar uma expressão contida no texto de Moisés como sinônimo de Jejum. Trata-se de inah nafsho, que nossas
Bíblias traduzem por “afligir a alma”. A raíz etimológica de inah, (ou afligir), quer dizer estar ocupado, estar atarefado
com, humilhar-se, enfraquecer algo (Strong, nº 6031). Por causa do sentido de enfraquecer interpretou-se aí um jejum
nacional, onde todos se prostravam diante de Deus, arrependidos pelos pecados cometidos durante o ano que se
passou. É a raiz de inah a palavra por trás de “nos humilhamos” no texto que escolhemos para Isaías 58.3.
Ligando Levítico com Isaías, vemos que uma das funções do Jejum no Antigo Testamento era a purificação anual de
pecados. Nós, que cremos em Cristo Jesus fomos, de uma vez por todas, santificados por seu sangue, como
aprendemos no texto de Hebreus. Isso nos ensina mais uma coisa que, definitivamente, não é jejum: condição para
salvação. Pela graça somos salvos (Efésios 2.8), pela Palavra de Deus somos purificados, limpos de nossos pecados
(João 15.3). Fomos santificados, lavados e tornados justos diante de Deus simplesmente através do nome de Jesus
Cristo (1ª Coríntios 6.11). Vamos tentar resumir: Segundo o texto de Levítico, o Jejum servia para a purificação dos
pecados do povo judeu. Através de Cristo o pecado foi de uma vez por todas derrotado, e os nossos são perdoadosunicamente pelo sangue de Jesus, logo não é bíblico pregar que o jejum serve pa
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