Conteúdo e estrutura do Apocalipse
Em acréscimo à decisão a respeito do modo certo de ler o Apocalipse (veja o 1º artigo) e à atenção devida ao elemento tempo no livro (2º artigo), um terceiro modo de ver que abriu para mim algumas portas para este livro se relaciona com sua estrutura.
As referências a tempo no Apocalipse provam que quase o total da ação do livro -- direto até a prisão de Satanás (20:1-3) -- acontece dentro de um período de tempo relativamente curto que não estava longe no futuro quando João escreveu. Não insisto em tomar os números literalmente. Talvez eles sejam destinados a propósitos comparativos: "pouco tempo" (6:11), quarenta e dois meses (11:2; 13:5), mil duzentos e sessenta dias (11:3; 12:6), três anos e meio (12:14), "um curto tempo" (12:12), em oposição a mil anos (20:1-6). As perseguições deveriam durar três anos e meio. Então os inimigos da igreja cairiam e os mártires reinariam durante mil anos.
Um exame da estrutura literária do Apocalipse reforça esta impressão com respeito ao decurso de tempo do Apocalipse, inicialmente criada pelas referências de tempo do livro. Em outras palavras, a estrutura do Apocalipse também sugere que o livro lida com acontecimentos caindo num período de tempo relativamente breve, e não eventos estendidos por um longo período.
O livro começa com uma visão do Cristo glorificado instruindo João a escrever às sete igrejas da Ásia (1:9-20). Esta chamada é seguida por mensagens a cada uma das sete igrejas, advertindo-as e preparando-as para a vinda de uma crise (capítulos 2-3). Então vêm as visões de Deus no trono (capítulo 4) e do Cristo crucificado tomando o livro da mão de Deus para fazer com que seu conteúdo aconteça (capítulo 5).
Esse livro contém o propósito de Deus relativo ao completo estabelecimento do reino de Deus e a derrubada dos inimigos que se levantaram contra o governo divino-- uma explicação estabelecida pelo que acontece quando o livro é aberto (capítulos 6-11) e especialmente a meta à qual a ação é dirigida (10:7 - 11:15-19). O livro foi selado com sete selos. Quando os selos são abertos, as coisas começam a acontecer. Os primeiros quatro revelam forças operando no mundo sob o comando de Cristo (6:1-8); o quinto, o grito dos mártires pelo julgamento dos seus inimigos (6:9-11); o sexto, uma previsão desse julgamento (6:12-17). Duas visões consoladoras dão segurança aos servos de Deus em vista das terríveis forças a serem liberadas no mundo (capítulo 7).
O quinto e o sexto selos têm-nos feito procurar uma vingança para o sangue dos mártires (6:9-11) e o julgamento dos seus inimigos (6:12-17). Mas quando o sétimo selo é tirado e o livro fica totalmente aberto, o julgamento se torna um caso prolongado, com uma série de trombetas assinalando várias pragas que afetam aqueles que moram na terra, mas das quais os servos de Deus estão isentos (capítulos 8-9). É dada a João uma nova missão para proclamar a consumação do propósito de Deus, na sétima trombeta (capítulo 10). A experiência de Cristo precisa ser repetida em suas testemunhas (11:1-13), mas quando a sétima trombeta soa o grito dos mártires é respondido e o julgamento cai sobre seus inimigos (11:14-19).
Este esquema deverá mostrar que as trombetas estão incluídas no livro selado (capítulo 5) e começam a tocar quando o livro é completamente aberto. O resto da ação do Apocalipse, até o capítulo 20, não avança além da sétima trombeta, mas somente amplifica o que já está sumariado em 11:15-19. Mas antes desta elaboração, o progresso da ação do Apocalipse é suspenso nos capítulos 12-14 para prover algumas informações necessárias ao entendimento da luta entre a igreja e seus inimigos.
Esta luta é a clara expressão do conflito espiritual entre Cristo e o diabo. Este é derrotado na cruz (12:1-12) -- assim o versículo 10 explica a "batalha no céu" -- e é lançado para a terra onde agride a igreja (12:13-13:1a), "cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta" (versículo 12). Isto explica as perseguições.
Os principais agentes através dos quais esta cólera é exprimida são uma besta (rei, 17:11) que se levanta do mar (13:1-10) e outra besta que sai da terra, que força a adoração à primeira besta (13:11-18).
Em oposição a estes inimigos está o Cordeiro, com seus fiéis seguidores (14:1-5). A aproximação do julgamento é anunciada por três anjos (14:6-13) e duas visões de julgamento aparecem (14:14-20).
Quando as sete taças da ira são derramadas (capítulos 15:16), a ira de Deus é terminada (15:1). Estas sete taças, portanto, são o julgamento final contra os perseguidores. As sete taças não são algo inteiramente novo. Elas são uma elaboração do julgamento da última trombeta (11:15-19). Este julgamento não foi descrito no capítulo 11, exceto por um breve resumo no versículo 19. A prova de que as taças são uma elaboração da última trombeta se encontra numa comparação de 15:5 e 16:17-21 com 11:19. Cada elemento do julgamento da sétima trombeta reaparece nas taças: templo, arca da aliança, raios, vozes, trovões, terremotos e granizo.
O trecho do 17:1 ao 20:3 é uma elaboração ainda posterior de certos detalhes deste julgamento, daí a queda da Babilônia (capítulos 17:18), a derrota da besta e do falso profeta (capítulo 19) e a prisão de Satanás (20:1-3).
Você está começando a pegar a estrutura do Apocalipse? É como uma grande pintura que cobre toda uma parede. Você tem que ficar junto à parede oposta para vê-la toda. Então você anda em direção a ela e dá um olhar mais de perto aos pormenores. Depois você pega uma lente de aumento e estuda certos aspectos mais de perto ainda.
É assim com o Apocalipse. É mostrado para nós primeiro um grande quadro, pelo menos os traços principais. Depois damos uma olhada de perto aos pormenores. Mais tarde, algumas minúcias serão aumentadas ainda mais. Aqui e ali são inseridas visões para dar informações necessárias ao entendimento da luta que a igreja enfrenta.
O Apocalipse não é, portanto, um relato contínuo da história da igreja através das eras. Depois de 11:15-19, as partes subseqüentes não avançam a ação além do ponto atingido ali (até o capítulo 20), mas se detém nos pormenores. O livro dá um tratamento intensivo de um período limitado da história da igreja. Ele pinta o conflito entre a igreja e seus inimigos, terminando em derrota de todos os inimigos e com os mártires, que pareciam só ter encontrado derrotas, reinando em tronos durante mil anos (20:4-6). Então Satanás é libertado somente para ser finalmente destruído (20:7-10). Depois vem o julgamento final (20:11-15). A visão de encerramento pinta a realização final do propósito do Criador (21:1 - 22:5). O Criador está no trono (capítulo 4). E ele não permitirá que seu propósito seja frustrado.
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