O ensinamento de Jesus sobre perdão tem sido pouco entendido em nossos tempos. A graça de Deus tem sido ampla e entusiasticamente pregada, mas freqüentemente com tal irrelevante presunção que seu custo a Deus e sua demanda de nós de um profundo sentimento da necessidade de perdão e uma profunda gratidão por isso são pouco tratados. Jesus aborda esta matéria crítica na parábola dos Dois Devedores (Lucas 7:36-50).
Na parábola do Servo Impiedoso Jesus ilustra como a incrível misericórdia de Deus para conosco deverá transformar nossa atitude para com outros. Na parábola dos Dois Devedores, ele abre o segredo daqueles que amam a Deus de uma maneira insuperável e, assim fazendo, revela a razão pela qual alguns homens e mulheres, eles mesmos em grande necessidade de misericórdia, são tão insensíveis, judiciosos e implacáveis.
A história que dá origem a esta parábola é uma muito poderosa, tanto que a parábola repousa em sua sombra, uma simples ilustração que serve para explicar a comovedora cena que acaba de ser representada. Não sabemos, com exatidão, o tempo ou lugar do ensinamento da parábola dos Dois Devedores, mas deve ter sido em uma das cidades da Galiléia e provavelmente no segundo ano do ensinamento público do Senhor. Lucas coloca-a num tempo em sua narrativa que faria dela uma das primeiras parábolas de Jesus, mas não se pode saber com certeza se realmente ocorreu ou se foi inserida para ilustrar porque Jesus, como seus detratores gostavam de repetir, tinha uma reputação de amigo de pecadores. O fato que o Senhor ainda está recebendo convites para jantar com fariseus e a atmosfera geralmente quieta deste jantar sugerem um tempo antes das amargas confrontações do final do ano quando seu último encontro com um fariseu explodiu numa poderosa denúncia da hipocrisia deles (Lucas 11:37-44).
Jesus, aberto aos grandes e aos pequenos, respondeu ao convite de um fariseu chamado Simão para jantar. Os motivos de Simão são difíceis de aquilatar. Talvez fosse curiosidade sobre um mestre religioso popular ou o desejo de exibir uma “celebridade” à sua mesa de jantar. Ele sabe que Jesus é visto por muitos como um profeta, mas sua maneira de tratá-lo parece ser mais protetoramente polida do que solícita e respeitosa.
Dentro deste cenário, de outro modo ordinário, chega subitamente uma mulher de reputação notória que cai aos pés estendidos de Jesus sem nenhuma palavra e os cobre de beijos ardentes. O Senhor, também sem falar, continua quietamente sua refeição, nem se recolhendo do toque dela nem reprovando a sua desenvoltura. Simão, também, está sem fala, demasiado surpreso para dizer palavras, não porém para alguns pensamentos muito acusadores contra a mulher e contra Jesus. “Se Jesus não sabe que qualidade de mulher é esta,” ele raciocina, “ele não pode ser um profeta, e se ele sabe e não a rejeita, não pode ser verdadeiramente bom.” Para Simão, apenas o toque de tal mulher era poluente (versículo 39).
Tal comportamento por parte de uma mulher de má fama em casa de um proeminente fariseu era capaz de causar sensação. Ela era, primeiramente, não comum, e em segundo lugar, ela não observou da periferia como aos estranhos não convidados era evidentemente permitido fazer pelo costume no mundo antigo, mas veio diretamente a Jesus. Dadas a reputação dela e a mentalidade de Simão, não é surpreendente a suspeita dele de que os beijos ferventes dela fossem de um tipo diferente do que realmente eram. Ele tirou uma rápida conclusão que era inverídica como se fosse “lógica” e, em sua pressa, foi cruelmente injusto com ambos – com a mulher e com Jesus.
Ela veio a ele. O ambiente desta mulher “pecadora” está amortalhado em silêncio. Não há a mais leve evidência que ela fosse ou Maria de Betânia (uma honrada mulher de uma casa bem respeitada) ou Maria Madalena (de quem Jesus expulsou sete demônios, o que nunca era um sinal de perversidade). Podemos somente especular que ela tinha, como milhares de outras, ouvido o gracioso convite de Jesus para os sobrecarregados pecadores para viessem a ele por descanso e, crendo, tinha vindo ao Senhor em penitência e alegre gratidão (versículo 50). A mulher veio a Jesus, não impulsivamente, mas resolutamente e preparada, seu coração completamente fixo no Filho de Deus; ela estava completamente inconsciente de como seu comportamento estava afetando os outros.
Ela chorou. A única coisa não planejada nos atos desta mulher pecadora foi o súbito fluxo de lágrimas que seu coração, partido mas agradecido, enviou cascateando abaixo para os pés de Jesus. Apressadamente ela enxuga as gotas ofensivas com suas tranças soltas, e agora se aproxima, beija seus pés em gratidão e homenagem. É provável que somente depois de se compor ela derrama sobre ele o frasco de alabastro de óleo aromático que ela tinha trazido em honra a ele.
Fora a crucificação, não há uma cena mais comovente na Bíblia e, por causa dela, Jesus nos deu a parábola dos Dois Devedores.
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